quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Museu Afro-Brasil


Um conceito em perspectiva


A criação do Museu Afro Brasil concretizou-se como resultado de mais de duas décadas de pesquisas e exposições exibindo como negro quem negro foi e quem negro é no Brasil, de séculos passados aos dias atuais. Essa foi, assim, mais uma etapa em um processo em curso.
Criar um Museu que possa registrar, preservar e argumentar a partir do olhar e da experiência do negro e formação da identidade brasileira foi o desafio de uma equipe de consultores, especialista em museologia, história, antropologia, artes e educação, diante de uma coleção inicial de 1.100 obras, , entre pinturas, esculturas, gravuras, de artistas brasileiros e estrangeiros, além de fotografias, livros, vídeos e documentos, para delinear um fio condutor desse ambicioso projeto, já com algumas premissas definidas, mas ainda com muito a se trabalhar para torná-lo uma realidade consolidada.
O Museu Afro Brasil tem, pois, como missão precípua a desconstrução de estereótipos, de imagens deturpada e de expressões ambíguas sobre personagens e fatos históricos relativos ao negro, que fazem pairar sobre eles obscuras lendas que um imaginário perverso ainda hoje inspira, e que agem silenciosamente sobre nossas cabeças, como uma guilhotina, prestes a entrar em ação a cada vez que se vislumbra alguma conquista que represente mudança ou o reconhecimento da verdadeira contribuição do negro à cultura brasileira.
Esse museu pretende unir História, Memória, Cultura e Contemporaneidade, entrelaçando essas vertentes num só discurso, para narrar uma heroica saga africana, desde antes da trágica epopeia da escravidão até os nossos dias, incluindo todas as contribuições possíveis, os legados, participações, revoltas, gritos e sussurros que tiveram lugar no Brasil e no circuito da diáspora negra. Um museu que reflita uma herança na qual, como num espelho, o negro possa se reconhecer, reforçando a autoestima de uma população excluída e com identidade estilhaçada, e que busca na reconstrução da autoimagem a força para vencer os obstáculos à sua inclusão numa sociedade cujos fundamentos seus ancestrais nos legaram.
Sobretudo, o Museu Afro Brasil é um museu contemporâneo, em que o negro de hoje pode se reconhecer. Um museu que integra os anseios do negro jovem e pobre ao seu programa museológico, contribuindo para sua formação educacional e artística, mas também para formação intelectual e moral de negros e brancos, cidadãos brasileiros, em benefício das gerações que virão. Um museu capaz de colaborar na construção de um País mais justo e democrático. Igualitário do ponto de vista social, aberto à pluralidade e conhecimento da diversidade no plano cultural, mas também capaz de reatar os laços com a diáspora negra, promovendo trocas entre a tradição a herança local e a inovação global.
Um museu que está na maior cidade brasileira e numa das maiores do mundo, a qual, por ser ela própria multicultural e multirracial, é o palco ideal para concretizar essa utopia, assumindo uma tarefa pioneira na criação de uma instituição que pode servir como instrumento para se repensar novo conceitos de inclusão social, e espelho para refletir uma sociedade enfim disposta a incorporar o outro nas suas diferenças. Afinal, foi nessa cidade de São Paulo que a herança de sangue, suor e lágrimas de africanos que souberam conservar o patrimônio de sua cultura e sua memória erguidos quilombos do Jabaquara e da Saracura e personalidades como André Rebouças e Luís Gama, cidadãos negros, heróis brasileiros na luta contra a escravidão

Emanoel Araujo 

Este texto foi retirado, em fragmentos, de um livro que procuramos na biblioteca do Museu, com a ajuda da bibliotecária.




 Mapa de onde o museu está localizado no Parque Ibirapuera




Planta do Museu Afro Brasil





Acervo permanente

Seu acervo permanente tem mais de 5,5 mil peças das quais, curiosamente, a maioria é contemporânea pós-1945, em vez de moderna (do século XIX a metade do século XX) como o nome do museu poderia sugerir. Raramente exposta em sua plenitude, a coleção inclui pinturas, esculturas, instalações e fotografias de artistas como José Resende, Volpi, Ligia Clark e Mira Schnedel, Leonilson, Leda Catunda, Dora Longo Bahia e Sandra Cinto.

Acervo temporário

O Acervo temporário faz parte das novas mostras do Museu Afro Brasil que celebram os 11 anos da instituição. Esta mostra, que revela a força da arte tradicional popular, é composta por obras da coleção de Ladi Biezus, uma coleção de arte feita sem intencionalidade, ao longo de 45 anos.
O Museu afirma com gosto que é maravilhoso olhar sobre uma por uma das obras, relembrar os artistas amigos e cheios de ilusões, desfrutar a inesgotável fascinação que elas ainda exercem e incorrer na tentação de lançar um olhar panorâmico” e ainda complementa “Esta coleção não é um panorama exaustivo de tudo quanto de bom a arte do povo brasileiro produziu nos últimos 50 anos. São obras que naturalmente aconteceu reunirem-se ao longo do caminho”.

Fazem parte desta mostra: José Antonio da Silva, Isabel de Jesus, Mirian Inês da Silva, Emygdio de Souza, Valdomiro de Deus Souza, Mestre Guarany, Mestre Dezinho, Mestre Vitalino, Mestre Nosa, Raimundo de Oliveira, Elza O S, Conceição dos Bugres, Véio (Cicero Alves dos Santos), Ivonaldo Veloso de Mello, Maria Auxiliadora e o inestimável Agnaldo Manoel dos Santos.

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